quinta-feira, 8 de julho de 2010

Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada




Vinte Poemas de Amor foi a obra que marcou a juventude do autor Pablo Neruda e, ainda que escrito às vezes em Santiago do Chile, essa obra tem como fundo a paisagem do Sul, especialmente, os bosques de Temuco, as grandes chuvas frias, os rios e o selvagem litoral sulino. Inspirado em uma pessoa que amou na época, cantou principalmente o amor e a sexualidade, mas fez referências à saudade, à solidão, aos sonhos e às tristezas como elementos figurativos de seu inconsciente, como desejos que persistem enquanto há vida (“Corpo de mulher, brancas colinas, coxas brancas, / pareces com o mundo na tua atitude de entrega. / Meu corpo de lavrador selvagem te escava / E faz saltar o filho do fundo da terra”, Neruda, p. 42) (“Mas cai a hora da vingança, e te amo. / Corpo de pele, musgo de leite ávido e firme. / Ah os copos de peito! Ah os olhos de ausência! / Ah as rosas do púbis! A tua voz lenta e triste!”, Neruda, p. 43).

Em Freud (1976), para cada indivíduo, os primeiros objetos sexuais são os da infância. Todos os objetos sexuais subseqüentes são edições posteriores daqueles. A paixão de Neruda por essa jovem está baseada em alguma figura, que na infância, inconscientemente, o excitava, tendo mais tarde vivido conscientemente essa fantasia com a mulher amada. Percebe-se como é poderoso e duradouro o efeito dos desejos da infância sobre a vida sexual adulta de uma pessoa (“Sinto viajarem teus olhos e é distante o outono: / boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa, / para onde emigram os meus mais profundos desejos / e caíam os meus beijos alegres como brasas” // “Céu (visto) de um navio. Campo (visto) dos montes. / Tua lembrança é de luz, de fumaça, de lago em calma! / Mais para lá dos teus olhos ardiam os crepúsculos. / Folhas secas de outono giravam na tua alma”, Neruda, p. 44).

Nesse poema, o poeta participa, segundo Freud (1976), de uma crença animista quando volta ao pensamento infantil que toma parte importante na magia. Todos os objetos do meio de uma criança são inicialmente aceitos como tendo pensamentos, sentimentos e desejos, assim como ela. Toda a natureza está animada até que a experiência e seus pais lhe digam o contrário. São vestígios dessa crença que persistem em áreas da vida adulta do autor.

Salienta-se que o fato de ser escritor não o difere de outras pessoas na relação entre devaneios e desejos inconscientes. Pode-se dizer que o inconsciente é um lugar psíquico especial que deve ser entendido como um sistema de energia específica. É principalmente o lugar onde estão os conteúdos quase sempre reprimidos. Reprimidos porque os objetos se vão e deixam o sofrimento, porque os conflitos obrigam a abandonar os desejos. O simbolismo surge como resultado do conflito intrapsíquico e as tendências repressoras e o reprimido. Somente o que é reprimido necessita ser simbolizado. Pode-se relembrar um dos pensamentos fundamentais da psicanálise, expresso por Lacan (1998): “Somos lá onde pensamos e pensamos lá onde não somos.” O pensamento ajuda a existência, mas é a existência que pesa no pensamento, pede auxílio quando sofre, enquanto tem dores, enquanto sente faltas. Não há duvidas de que essa obra possui um valor estético e poético que transcende em nossos dias.

Fonte:







Um comentário:

  1. Ola me chamo Marcos, sou aluno do curso de letras da uece e um amante da poesia...adorei o blog...escrevo poesias e gostaria que fossem divulgadas, estão no: http://recantodasletras.uol.com.br/poesiasdeamor/1666594

    ResponderExcluir